sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Bandeira branca, amor

Ilustração: Lu Gomes

Descaradamente, Gisele começou a me dar mole. Namorada do meu irmão, a vadia. Era só beber umas a mais, que o pouco de noção que ela tinha, perdia. Dava bandeira, dava em cima, um dia, daria confusão. Eu fugia dela nas festas lá de casa. Às vezes, eu nem ia. Pressentia encrenca quando percebia que a mina (também) me queria. Um dia, aconteceu. Não vou dizer "não gostei" ou "evitei". Na real? Eu me aproveitei.
Foi por acaso. Durante um fim de semana na casa da praia. Eu fui à garagem buscar cerveja e ela estava procurando um batom perdido dentro do carro, atrás do banco. Ofereci ajuda, ela pediu a lanterna do celular. Quando estiquei o braço, ela me puxou. Nem freei, deixei a mina me beijar, gostei, ela sempre foi gostosa, né. Já meti a mão na calcinha dela, mas só tirei um sarro rápido porque logo bateu culpa. Pensei no meu bró, desencanei.
No dia seguinte, depois do almoço, ela aproveitou que todo o mundo bebeu e foi dormir (inclusive meu irmão) e veio de novo com graça. Eu estava na rede cochilando, Gisele surgiu do nada. Abriu o zíper, mostrou a calcinha branca, passou a mão no meu pau. Molhou os lábios. Alisou, apalpou, deixou duro. De longe, ninguém via a gente - e confesso, eu não tirava os olhos dela, gata bronze de sol. Quando senti aonde aquilo ia dar, fraquejei. Perdi o controle, ela assumiu. Acelerando as mãos, ela me levou. Foi excelente não fugir. Fiquei orgulhoso do meu irmão a partir dali. Que mulherão ele tinha. Nunca mais tivemos nada, eu e Gisele. Aquele fuck foi só para conferir. Nasceu o silêncio dali.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Suave, brother!

Ilustração: Lu Gomes

Suave no jeito de andar, vestir e falar, Ana era boa de namorar. Vivia cheirosa, de unhas esmaltadas e sapato cor de rosa. Numa reunião entre amigos, raramente fumava, só curtia o cigarrinho natural. Numa noite, Ana usava um tubinho que o Paulinho logo descobriu: era facinho de tirar. Rapidinho, ele levou Ana ao banheiro. Ela foi primeiro. Ele depois. Ficaram ali em silêncio, na janela da discrição. Paulinho mexeu nos peitos de Ana, tascou-lhe um beijão. Pediu para ela se ajoelhar, empurrou sua cabeça. Ana obedeceu. Abaixou o vestido, Paulinho tremeu. Ana estava ali, totalmente à disposição. E Paulinho só na curtição, até que os dois terminaram a festinha rindo, com aquela cara boa, de satisfação.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Dedômetro

O uso de dedos para verificar dados funciona em várias escalas. Desde numa grande empresa, em que por qualquer motivo não se podem identificar dados por instrumentos de precisão, até em uma cena doméstica. Como acontecia diariamente na casa de Armando. Todas as noites, ele chegava do escritório e primeiro deixava a pasta em cima do sofá. Depois lavava as mãos no lavabo, enxugava perguntando como tinha sido o dia de Sara e partia para o teste do dedo. O teste era uma brincadeira íntima do casal. Tinha sido ideia da Sara, num dia desses de estarem à toa, de brincadeira. Sara falou: "Teste com seu dedo médio se estou excitada". Armando gostou. Sara também, porque a mão dele, com aquele relógio, e o perfume do sabonete de limão siciliano, era tudo de bom. Fizeram a primeira pesquisa juntos, aprovada. A segunda vez foi mais gostoso, porque Armando lambeu o dedo depois. Da terceira vez em diante, Armando chegava em casa pensando no teste. A brincadeira tinha crescido, ganhava outras proporções. Como a mulher estaria naquele dia?

Ilustração: Lu Gomes

Por sorte, tinha escolhido a pessoa certa, porque Sara vivia à espera do homem da sua vida. Facinha, né? Nãnão. Sara era difícil. Ela dava, mas cobrava, exigia em troca.
Armando queria sexo. Depois que comia a mulher, todas as noites, queria jantar, ver tevê, curtir o futebol também pelas redes, essas coisas de homem. Sara partia para seus rituais de beleza noturnos. E assim seguia a vida, esse casal.

Rotina profissional sem zika

Ilustração: Lu Gomes

Obcecada por higiene, Emanuelle gostava de usar vestido branco nas noites calientes de verão. Casual no guarda-roupa, profissional no batente. Ia direto ao ponto e pronto: fazia seu trabalho. Nas raras vezes em que dava tudo, exigia camisinha. Era sempre ela quem decidia o programa, dependendo do que estivesse afim. Inovadora, enfim. Emanuelle não atendia pensando no bolso. Ela obedecia seu coração. Tinha vontade? Ia. Não queria? Ficava. Tinha dessas, a rua. Especialmente a travessa que Emanuelle dominava.
Junto com a liberdade, agora Emanuelle queria limpeza na área. Absoluta na quadra, decidiu hastear bandeira: naquele ponto da cidade, não haveria espaço para artrópode da moda algum. Ou ela ou o mosquito do zika, terror da última estação. Que reinasse ela sozinha no mapa, então. Passou a chegar uns minutos mais cedo (ela era pontual) do que de costume e, cheia de graça, tirava com uma vassoura possíveis garrafas quebradas, papéis, sacos plásticos, copos descartáveis, tudo o que pudesse juntar água parada e atrapalhar seu negócio. Claro que dava preguiça, mas daquilo dependia uma vida. Ou várias. Depois do trato no espaço, Emanuelle lavava as mãos e até as pulseiras no bar do Zé. Passava um creminho de tangerina, retocava o batom e, mãos macias, carregava na malícia, sorrindo e fazendo (quase tudo) que o cliente pedia. Se ele quisesse, ela esticava o programa, à moda da grana: "Paga?". Se sim, leva. O melhor do business de Emanuelle era sua boca carnudinha. A danada sabia o que fazer quando alguém penetrava aquele espaço oco. Até quando não fazia nada era gostoso, só sentindo para ver. Magic Emanuelle... A garota era um ser criativo. Dona de si, seguia com a língua um compasso só dela, indo e vindo na direção certa, para cima e para baixo, mais lento ou mais rápido, mordiscando e lambendo, e os lábios cada vez mais molhados e escorregadios, Aquele vai-e-vem era alucinante, pena que ela só atendia no carro. E nunca dava tudo, só a boca. Mas com ela, fazia de tudo. No fim, o que muitas não queriam, ela fazia gostoso: engolia in-tei-ro. E se exibia, olhando para o cliente de baixo para cima, com o troféu de ouro que, naquele instante íntimo, era dela. Assim ela fazia, era sua rotina. Rotina de profissional.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Amor sem enrolação na Broadway

Ilustração: Lu Gomes

A gente deve correr atrás do amor ou o amor é que corre atrás da gente? 
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Rumi (1207-1273), poeta persa do século 13, responde:
"Sua tarefa não é buscar o amor, mas apenas procurar e encontrar todas as barreiras dentro de si mesmo que você construiu contra ele".
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Marina borrifou água termal no rosto e foi procurar Ricardo sem calcinha quando soube que ele tinha chegado. Ricardo estava fora havia um mês, em viagem de trabalho no Deserto de Atacama. Sabe Deus o que o cara tinha ido fazer no Chile. Marina ficou nervosa porque ele voltou sem avisar. Desconfiada de samba, foi até o apê dele usando longo e cheirosa, para a conversa não ter enrolação e acabar ali mesmo, onde ela queria. Ricardo levou susto ao abrir a porta. Já estava tomando um uisquinho, mas sozinho. Sorte da Marina. Ou azar. Noite agradável, o papo começou quente, teve tomada de satisfação, discussão. Ok, Ricardo queria uma folga, namoro longo, cansa. Mas já que Marina estava ali, sexy e linda, melhor traçar e calar. Um pedido de desculpas e caso encerrado sem B. O.

Fetiche de carnaval

Ilustração: Pinterest

Odalisca. Essa era a fantasia que ela queria usar. Fantasia SSS: sensual, submissa, sossegada. O carnaval tinha deixado de ser sua festa preferida desde a adolescência, quando morava no interior e cheirava lança-perfume (como era mesmo o nome? Universitário). Naquele tempo, ela se atracava com os meninos lindos da cidade no salão do clube lindamente decorado. Gostava de dançar na confusão. Dava gosto, tesão. As pessoas lindas se beijavam e ela beijava também. Bebiam, fumavam, cheiravam, beijavam. Alguns exageravam, claro, mas tanto tempo atrás é passado, e passado passou. Foi. Deu. Agora ela atacava de odalisca do segundo milênio no carnaval brasileiro. Entrega total.