segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Dedômetro

O uso de dedos para verificar dados funciona em várias escalas. Desde numa grande empresa, em que por qualquer motivo não se podem identificar dados por instrumentos de precisão, até em uma cena doméstica. Como acontecia diariamente na casa de Armando. Todas as noites, ele chegava do escritório e primeiro deixava a pasta em cima do sofá. Depois lavava as mãos no lavabo, enxugava perguntando como tinha sido o dia de Sara e partia para o teste do dedo. O teste era uma brincadeira íntima do casal. Tinha sido ideia da Sara, num dia desses de estarem à toa, de brincadeira. Sara falou: "Teste com seu dedo médio se estou excitada". Armando gostou. Sara também, porque a mão dele, com aquele relógio, e o perfume do sabonete de limão siciliano, era tudo de bom. Fizeram a primeira pesquisa juntos, aprovada. A segunda vez foi mais gostoso, porque Armando lambeu o dedo depois. Da terceira vez em diante, Armando chegava em casa pensando no teste. A brincadeira tinha crescido, ganhava outras proporções. Como a mulher estaria naquele dia?

Ilustração: Lu Gomes

Por sorte, tinha escolhido a pessoa certa, porque Sara vivia à espera do homem da sua vida. Facinha, né? Nãnão. Sara era difícil. Ela dava, mas cobrava, exigia em troca.
Armando queria sexo. Depois que comia a mulher, todas as noites, queria jantar, ver tevê, curtir o futebol também pelas redes, essas coisas de homem. Sara partia para seus rituais de beleza noturnos. E assim seguia a vida, esse casal.

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